Não basta fazer um intercâmbio, a gente quer é voltar e voltar e
voltar. Depois de fazer o meu primeiro intercâmbio aos 21 anos de idade,
a ideia de voltar e estudar ainda mais, e fazer um monte de coisas de
novo, e outro tanto de coisas diferentes, não saía da minha cabeça.
O
contexto havia mudado um pouco: ao invés de ir estudar inglês, somente,
a ideia era fazer um estudo mais focado em negócios, minha área de
atuação. Queria melhorar a minha capacidade de comunicação e realização
de apresentações em inglês, e pegar um pouco de gírias e jargões da área
de marketing. Estava fazendo MBA na época, com aprofundamento em
Marketing, e minha carreira avançava na área.
Apesar da
minha irmã não poder ir comigo desta vez, uma das minhas melhores
amigas embarcou no sonho e resolveu ir comigo estudar (imagine só: amiga
da faculdade que estava fazendo MBA junto comigo e ainda resolveu ir
viajar!!!). Mas o cenário era mais complicado: ambas trabalhávamos (e
portando com muita ginástica conseguimos 45 dias de férias), e tínhamos
budget limitadíssimo, a libra estava 1 para 5 reais!
Neste cenário, decidimos algumas coisas:
- queríamos ir para Londres (minha experiência havia sido muito positiva),
- o roteiro iria incluir uma viagem pela Europa (desta vez a ideia era explorar a Península Ibérica: Portugal e Espanha),
- seriam 4 semanas de estudo (o que eu considero o mínimo ideal para ter algum progresso efetivo no objetivo de estudos),
- teríamos mais alguns dias para mochilar,
-
desta vez, para facilitar a logística, ficaríamos hospedadas na mesma
casa de família (mas teríamos que falar inglês o maior tempo possível),
- a escola de inglês teria que ser excelente, mas não precisava ser "a mais cara".
- a baixa estação (vulgo "inverno") novamente foi uma decisão certeira para adequar o nosso orçamento.
Assim,
em janeiro de 2001, agora aos 25 anos de idade, fui com a minha melhor
amiga para Londres estudar inglês com foco em conversação e business na
St. Giles School.
Passagens aéreas pela TAP com escala
em Lisboa (pegamos ainda a passagem de estudando = preço ótimo e
parcelamento). Desta vez fechamos tudo pela Central de Intercâmbio, que
foi ótima no processo todo, também, inclusive o curso e o seguro. O Euro
também já estava vigorando pela Europa, o que facilitou nossa vida na
segunda fase da viagem (levamos travellers checks em libras esterlinas e
euros).
A
estadia em casa de família em dupla também foi muito acertada. Passamos
pelas mesmas situações (adaptação à cultura e rotina de uma família
completamente diferentes das nossas, comidas estranhas - e situações
cheias de ovos e cogumelos, que ela e eu odiávamos, respectivamente -,
descarga, digamos, um pouco fraca - ha, ha, ha não acredito que estou
postando isso, chuveiro que ficava frio no meio do banho de 3 minutos,
porta do banheiro que não trancava, e por aí vai), mas desta vez
estávamos juntas e dávamos risadas (e apoiávamos uma à outra) juntas.
Além de termos companhia para volta sozinhas da balada a noite. Foi
muito mais "suave".
A escola foi excelente: instalações
muito boas, professores muito bons e de várias nacionalidades (mais uma
vez ajudando a trabalhar o entendimento de diferentes sotaques), turmas
bastante ecléticas e com alunos de todas as idades (de 12 a 50 anos).
Havia bastante atividade extra classe para promover a socialização e
também a integração das pessoas, e foi muito acertada a escolha do foco
em conversação e business (foi muito enriquecedor).
Todos
os dias, depois da escola, turistávamos pelos museus e pontos
turísticos de Londres (desta vez os museus estavam de graça, eba!).
Conversávamos somente em inglês entre a gente, eu ajudava a minha amiga
quando algumas palavras eram estranhas a ela, comprávamos cookies e
frutas no mercado e Cadbury no metrô, fomos a espetáculos, fizemos
baladas muito boas e demos muita, muita, muita, muita, muita risada.
Fizemos
duas grandes viagens de final de semana: uma para Edimburgh, na
Escócia, e outra para Dublin, na Irlanda. Foram espetaculares e nos
hospedamos em Bed & Breakfast ("so cozy").
Ao
final de tudo, estávamos muito mais inglesas, falando muito melhor, nos
divertimos e ainda teríamos Portugal e Espanha pela frente. Fizemos de
trem e ônibus o roteiro: Lisboa - Madrid - Toledo - Barcelona - Lisboa.
De quebra, ainda treinamos o espanhol. Foi incrível.
Algumas coisas engraçadas:
-
já comentei sobre o caso da privada, cuja descarga era péssima e
requeria muita estratégia para funcionar (ainda bem que duas cabeças
pensam melhor do que uma - hi hi hi),
- o banheiro do Museu de Buckingham pode ser uma ótima opção para quem está com o problema acima (hi hi hi 2),
-
lavar um cabelo muito comprido em 3 minutos é uma arte, se não quiser
passar frio numa casa com uma caldeira limitada, aprenda técnicas para
lavar ele em 1 minuto (no inverno não adianta pensar em desligar o
chuveiro para não congelar - a nossa técnica incluía começar o processo
molhando e pré-lavando o cabelo na pia para finalizar apenas no
chuveiro),
- esteja preparado para não se alimentar direito (a
comida em Londres, para pessoas de orçamento limitado, é ruim), pense
em lanchinhos para equilibrar a nutrição (ovo cozido e banana dão
"sustância"),
- quando mochilar de trem ou ônibus, também recorra a
lencinhos umedecidos e shampoo a seco para momentos extremos e de
impossibilidade de ter acesso a um chuveiro (isso acontece nas melhores
famílias),
- atente-se ao calendário de coisas que você desconhece
(quase não conseguimos viajar para Dublin por conta de uma final de
rúgbi - esporte que a gente até então desconhecia - que ocupou quase
todos os hotéis do Frommers - conseguimos uma vaga somente na última
tentativa).
O bacana de fazer um intercâmbio quando se
está mais "maduro" é que parece uma coisa totalmente nova. A gente
encara tudo de outra maneira e aproveita outras coisas da viagem. A
gente reflete sobre as coisas de uma maneira totalmente diferente, a
gente encara tudo de outra forma, e a gente rejuvenesce e abre a mente
novamente. É muito rico.
Estar na companhia de um amigo
também é um grande presente. Eu tive dois: na primeira foi com a minha
irmã e na segunda fui na companhia da minha amiga. Não poderia ser
melhor. Mas confesso que a teoria de "ficar em casas separadas para
aprender mais" só funciona quando se é bem novo, quando é mais velho,
desencana e vai curtir seu irmão, amigo ou namorado, porque ter uma
companhia para fofocar sobre o que aconteceu, confabular sobre a
programação do dia seguinte e dar risada dos micos do dia não tem igual.
Depois a gente tira a diferença de outras formas.
O
primeiro intercâmbio não te impede de fazer o segundo, nem o terceiro,
nem o milésimo. Com planejamento, boas escolas e a mente aberta, você
irá aproveitar muito, o melhor de cada um deles. Invista um bom tempo no
planejamento, converse com pessoas, visite feiras e eventos de
intercâmbio, fale com um mentor ou com seu chefe a respeito (eles podem
dar ótimas ideias). E o impacto nos seus planos pessoais ou
profissionais será muito positivo. As memórias são incríveis. Leve tudo
muito a sério, mas inclua lazer, porque isso também enriquece o seu
repertório e agrega muito na sua experiência.
No próximo post, falo de um outro intercâmbio, desta vez, com muitos erros e aprendizados consolidados.