Este é o primeiro de uma série de posts sobre intercâmbio. Ele é
dedicado a todos aqueles que já fizeram, estão fazendo ou estão pensando
em fazer um intercâmbio para aprender uma língua. Eles são baseados em
experiências pessoais e não são uma obra de ficção, nem foram
patrocinados por ninguém (bem, o primeiro e o segundo foram pagos pelos
meus pais).
Sempre quis fazer intercâmbio, mas
infelizmente nunca havia tido a oportunidade. Aquela coisa de ir morar
fora por um ano e seus pais receberem um gringo pelo mesmo período (se
não me engano do Rotary) sempre achei demais. Infelizmente nunca pedi e
nunca me ofereceram. Achava que era algo tão distante de mim e da minha
realidade que nunca conversei com ninguém a respeito. Apenas admirava
quem tinha esta experiência na vida.
Até
que no penúltimo ano da faculdade eu fui fazer alguns processo
seletivos para programas de estágio e percebi que, mais do que
simplesmente falar inglês, sem morar fora eu não teria chance nas
grandes empresas. Arregacei as mangas e fui estudar. Curso intensivo no
Berlitz (4 vezes por semana x 2,5 horas por dia), começando do "I am,
you are, he is...". Literalmente "The book is on the table". Ralamos
muito (eu e a minha irmã, companheira de estudos), fizemos muita lição
de casa, aprendemos diferentes sotaques (nesta escola os professores
mudam a cada aula e portanto você tem a oportunidade de aprender os mais
diferentes "accent"s do inglês), escutamos muita fita cassete com
exercícios no carro (para treinar escuta e pronúncia). Tudo isso depois
de ir pra faculdade, pela manhã e trabalhar a tarde e aos sábados na
loja da minha mãe.
No desenrolar do estudo, as coisas
melhoraram em nossa vida naquele ano e felizmente pudemos pleitear
(estimulados pelos professores e pelas duas amigas de sala de aula que
tínhamos) e conquistar (graças ao pai- e mãe-trocínio) o tão sonhado
intercâmbio.
A escolha foi difícil, foram um ou dois
meses pensando. Queríamos ir para os EUA, lógico, e não faltavam opções:
New York, Los Angeles, Seattle (eu era grunge), San Francisco. Dava
vontade de ir e ficar um ano, mas só teríamos condições de ficar um mês.
Mas alguns professores sugeriram a Inglaterra, disseram que Londres era
o máximo e que depois a gente ainda poderia conhecer alguns países da
Europa. O pacote foi ficando ainda mais interessante, para não dizer
completamente irresistível. Não tivemos como decidir diferente: iríamos
para Londres! Até porque eu sempre achei o 'accent' deles muito
elegante. E de brinde ganharíamos o mundo, pelo menos um giro pela
Europa. (A viagem de um mês virou 45 dias, 4 semanas em sala de aula e o
restante fazendo um mochilão de trem. Os patrocinadores foram
generosos. Sou muito grata a eles.)
O período teve que
ser a baixa temporada, para conseguirmos viabilizar o orçamento, e o
desafio era conciliar isso com os estudos (estávamos todas na faculdade e
não poderíamos perder aulas nem trancar matrícula). Optamos por janeiro
(pós festas). Inverno pesado (para nós, que não estávamos acostumadas),
mas por outro lado uma experiência diferente e a possibilidade de
vermos neve pela primeira vez. Boa economia.
Restava
outra grande decisão: para qual escola. Difícil escolher sem conhecer.
Saímos a procura de opções (note que era década de 90, portanto a
internet era discada, não havia "Google" e muito menos "trip advisor", e
ainda eram poucas as empresas que tinham um website). Nos indicaram
algumas boas escola, mas chamou a nossa atenção a International House:
super cara, porém conceituadíssima e grande formadora de professores (e
tinha uma unidade em Picadilly Circus!). Na época fechamos direto com
eles (via correio e international transfer). O processo em si já era um
desafio e tanto.
Optamos também por contratar um pacote
com inglês geral pela manhã (general english, 3 horas) e cursos de
reforço (2 horas) na parte da tarde. Foco total no aprendizado! Bem
intensivo.
Mais uma decisão: morar em abrigos
escolares ou casa de família. Como levamos a sério a questão da imersão
na cultura optamos por ficar em casa de família E por ficarmos em casas
separadas, para não falarmos português entre a gente no restante do dia.
Deu um frio na barriga.
Acho que o "pacote" que
montamos de maneira independente ficou bem bacana. Passagem de estudante
comprada na STB (e seguro de viagem também - naquela época não era
obrigatório, mas minha prima que teve apendicite durante uma viagem fez a
cabeça do meu pai para contratar), escola fechada direto, hospedagem em
casa de família (incluindo café da manhã e jantar), passagem de trem
comprada também na STB e um guia "Frommer's Europe 5 dólars a day"
emprestado da minha prima.
Com o tempo fomos comprando
"travellers' cheques" e libras esterlinas em espécie para levar. A ideia
era sobreviver com um budget durante a viagem e recorrer a um cartão de
crédito (adicional ao do meu pai) somente em caso de emergência.
Fizemos
muitas reuniões com todos amigos e professores que haviam viajado para
fora. Anotamos dicas de todos deles (em papéis e no guia que pegamos
emprestado). Desenhamos o cronograma de datas e também o trajeto do
trem.
Eu nunca havia feito algo do tipo, planejar uma
viagem. Nem minha irmã e minhas amigas. Muito menos meus pais (não este
tipo de viagem). A partir deste momento me apaixonei por viagem, pelo
planejamento, por criar e programar um roteiro. Foi paixão à primeira
vista.
No próximo post conto a experiência.